Problemáticas da Adolescência
A adolescência

Por adolescência entende-se a etapa da vida que se estende da infância à idade adulta. Inicia-se com a puberdade, ou seja, com os primeiros sinais de maturação sexual, o que, em termos de idade, varia conforme os sexos, o clima, o meio e a cultura. A adolescência é a transição entre a infância e a idade adulta, os adolescentes estão a afirmar a sua independência, tarefa por vezes difícil e pouco apoiada pelos pais, que os vêm a deixar de se comportar como crianças cumpridoras e obedientes e a não se comportarem ainda como adultos responsáveis. Um dos fatores que mais contribuem para fazer da adolescência um conceito plural advém da vivência particular que cada jovem faz das diversas e profundas transformações que ocorrem em si ao longo deste período, cada vivência é única. O pensamento do adolescente é caracterizado pelo seu egocentrismo, levando-o a crer que as experiências por que passa sã tão suas e únicas que muito dificilmente alguém as poderá entender. O adolescente sente-se muitas vezes incompreendido, mesmo sentindo que as pessoas se preocupam consigo. Uma outra forma de egocentrismo dos primeiros anos da adolescência consiste em os jovens, apesar de bem informados sobre os perigos que assolam as pessoas, negarem psicologicamente a hipótese de eles próprios serem vítimas desses perigos. Este sentimento de invulnerabilidade incentiva-os à aventura, expondo-os a riscos que muitas vezes têm consequências dramáticas e irreversíveis. A delinquência juvenil existe e merece que os adultos se preocupem com ela, mas generalizar indevidamente conduz a preconceitos sociais estigmatizadores, os adolescentes mais focados e provenientes de estudo são na maioria das vezes aqueles com problemáticas sociais agravadas.
Identidade
Quando se chega à adolescência, o jovem vive uma série de mudanças: mudanças físicas, hormonais, cognitivas, sociais, morais, que provocam sentimentos de insegurança. Durante estas mudanças, o adolescente tem que construir a sua identidade pessoal. Entretanto, o pensamento abstracto instalado nesta fase dá-lhe o poder de relativizar as coisas, pelo que os adultos deixam de ser as suas referências irrepreensíveis por que eram tidos na infância. O adolescente ganha a consciência de que os adultos mentem e roubam. Desta forma, o jovem depara-se com dificuldades acrescidas pela convicção de que, para se afirmar na sua individualidade, precisa de ser diferente das outras pessoas, mas que só será reconhecido e socialmente aceite se for como elas. Entre a infância e a idade adulta, sem pertencer a uma ou a outra, o adolescente, inseguro, debate-se com a tarefa de construção de si próprio como ser singular e único, tarefa que acarreta uma outra, a construção de um horizonte significativo, de um futuro em que confie para poder habitar.
Identidade prescrita/outorgada
A identidade prescrita é aquela que os jovens são exteriormente direcionados, não questionando, aceitando passivamente os papéis que lhes são prescritos por alguém que detém autoridade sobre eles.
Os adolescentes ao entrarem na puberdade, por muitas culturas, espera-se que os filhos exerçam funções idênticas às dos pais e se comportem como eles. Algumas destas, os pais decidem até com quem os filhos casam. A identidade destes jovens é, portanto, adquirida segundo um plano pré-estabelecido, sem margem para manifestações de autonomia, sem necessidade de procurar experiências, sem hesitações nem sobressaltos, sem dificuldades, sem crises. Estes apesar de se mostrarem contentes e seguros, tendem a ser dogmáticos quando as suas convicções são postas em causa e a impor papéis às novas gerações.
Crise de identidade
Por outro lado existem culturas em que são os jovens que se auto decidem, e por vezes deparam-se com situações de stress e ansiedade, próprio das sociedades ocidentais industrializadas é oferecer aos jovens uma quantidade enorme de escolhas possíveis; no entanto, apesar de parecerem liberais quanto às possibilidades oferecidas ao jovem para ele exercer a sua autonomia, estas sociedades não deixam de dificultar a afirmação da identidade ao prolongar-lhe excessivamente o período de dependência em relação aos adultos. Permanência em casa dos pais, sujeição económica, restrições comportamentais são entraves com que o jovem se debate quando pretende autonomizar-se, construir a sua identidade pessoal, situando-se assim num fluxo de forças contrárias que contribuem para que o jovem tenha que passar, segundo Erikson, por uma crise cuja vivência e resolução é que determinarão a sua personalidade e a sua vida como adulto.

Assim, o jovem entrega-se a tarefas que rapidamente abandona, experimentando sucessivos papéis, não encontrando nenhum que lhe assente bem. O sentimento de incerteza quanto à sua identidade e baixa auto- estima comum em muitos adolescentes fazem com que avaliem superficialmente as alternativas e de deixem fascinar por muitas delas, vivendo numa espécie de universo sem referências, em que coisas, normas, valores, passado e futuro têm a marca da relatividade, o adolescente entrega-se ao presente, saltitando à cata de experiências momentaneamente gratificantes como se fosse desprovido de raízes, sem história, sem horizonte, sem nada a que se agarrar.
Os pais desempenham um papel crucial quando um adolescente se depara com uma crise de identidade, sendo estes que devem criar um ambiente de comunicação aberta, oferecer apoio incondicional e validar as experiências do adolescente. Sendo os pais mais experientes, pois já passaram pela mesma situação, podem e devem orientá-lo, estimulando a sua autonomia e autenticidade. Os pais devem estar presentes, atentos e adaptar suas estratégias às necessidades individuais do adolescente, pois nem todos os adolescentes têm as mesmas necessidades e consequentemente estratégias que possam resultar em alguns, podem não ter efeito noutros ou até mesmo piorar a situação
Identidade adquirida
No final da adolescência, é suposto que o jovem tenha já construído uma noção a seu respeito, isto é, apresente uma estrutura bem definida, que integre o seu passado, as experiências que teve, os vários papéis que desempenhou. Para que o adolescente se sinta autónomo, sabendo quem é e o que deseja na vida, é preciso que sinta que os outros reconhecem a sua determinação em permanecer firme na pensar e no agir, no sentir e projetar. Neste sentido, desempenha papel fundamental o relacionamento estabelecido com algumas pessoas que, por serem significativas, se constituíram como modelos de identificação.
Moratória Psicossocial
Ao construir a sua identidade, o jovem não fica imune a sobressaltos, paragens, hesitações e desvios de percurso. Na realidade, o jovem precisa, muitas vezes, de um período de pausa, afastando-se das pressões e exigências impostas pelo adulto, nessa altura interessa-lhe experienciar a vida e as oportunidades que ela oferece, testando as suas capacidades. Erikson designa por moratória psicossocial este "período de latência", que se caracteriza por ser um período de compasso de espera em relação aos compromissos adultos. A moratória, segundo Erikson, pode ser um período de vida boémia ou de devaneios imaginativos, de abnegação ou de extravagâncias. A moratória pode ser confundida com a difusão da identidade, dado que em ambos os casos, o adolescente parece andar sem rumo. No entanto, elas distinguem-se nas vivências subjectivas e nos objectivos prosseguidos. Na difusão da identidade, o adolescente anda, de facto, sem rumo, mas não faz nada para o remediar. O que o caracteriza é a fuga às responsabilidades e o entregar-se à fruição imediata do prazer. Já na moratória, o jovem empenha-se na tarefa de encontrar um sentido para a sua vida; fá-lo sozinho, recusando caminhar pelas pegadas dos outros. A formação da identidade depende de diversos factores, como a família, a cultura, a época e experiências de infância. Vários especialistas têm-se dedicado a estudar este período de indefinição que caracteriza a adolescência, é o caso de Alan Waterman, que segundo segundo ele a moratória não se prolonga indefinidamente; a partir dela o jovem pode construir a sua identidade ou cair na difusão.