Influência da genética e do meio ambiente no desenvolvimento humano

A genética desempenha um papel importante no desenvolvimento humano, desde a infância até a idade adulta. Cada pessoa carrega informações genéticas únicas, que determinam muitos aspetos do seu desenvolvimento, como a cor dos olhos, tipo de cabelo, altura entre outros. Além disso, os genes também influenciam o desenvolvimento cerebral, o que pode afetar a inteligência, a personalidade e o comportamento. Por exemplo, estudos mostram que a inteligência é altamente influenciada pela genética, com uma correlação significativa entre o QI dos pais e o QI dos filhos. Os genes também podem influenciar a saúde mental, com determinadas mutações genéticas associadas a condições como autismo, esquizofrenia e depressão. O ambiente desempenha também um papel crucial no desenvolvimento humano, pois afeta a maneira como as pessoas pensam, sentem e se comportam. Desde o nascimento, os seres humanos são expostos a uma variedade de influências ambientais, incluindo a cultura, a educação, a nutrição, o acesso a cuidados médicos e muitos outros fatores que afetam o seu crescimento e desenvolvimento. O ambiente pode afetar a saúde mental das pessoas uma vez que o stress e os traumas podem ter um impacto negativo no bem-estar mental e emocional. Portanto, é essencial reconhecer a importância do ambiente no desenvolvimento humano e trabalhar para criar ambientes saudáveis e positivos que possam ajudar as pessoas a atingir todo o seu potencial.
Teoria das 10,000 horas, de Anders Ericsson:
Em 1993, um professor universitário chamado Anders Ericsson publicou uma pesquisa que causou bastante polémica, a teoria das 10 mil horas.
Ericsson acompanhou vários estudantes de violino, desde a infância até o final da adolescência, para que conseguisse descobrir o que diferenciava os músicos extraordinários dos medianos.
No final do seu estudo, Ericsson constatou que os violinistas mais talentosos eram aqueles que tinham praticado uma média de 10 mil horas, enquanto os que apresentavam um menor talento tinham praticado cerca de 4 mil.
Foram abordadas também outras teorias por parte de outros autores, como Gobet e Campitelli, que defenderam o facto de que a maior parte dos xadrezistas de elite tinham cerca de 11000 horas de prática, mas que no entanto o desvio padrão era muito elevado, o que quer dizer que alguns jogadores chegavam à elite com 3000 horas de prática, e outros que praticavam mais de 20000 nem chegavam a ser jogadores de topo. Posto isto, só era justificado 34% da prática deliberada no sucesso dos jogadores de xadrez, o que quer dizer que a teoria das 10 Mil horas não pode ser aplicada da mesma forma em todas as atividades, pois em cada uma prevalece ideias e princípios diferentes.
Talento
O talento desportivo é a denominação que se dá a um atleta que apresenta determinados pressupostos físicos, técnicos e psicológicos, numa dada fase do seu desenvolvimento, que permitem prever a possibilidade de este atingir o alto desempenho desportivo. A detecção de talentos é uma análise e identificação de uma criança ou adolescente que apresenta certos atributos e capacidades como o nível de aprendizagem, treino e maturidade que os podem levar a atingir o alto rendimento e a excelência desportiva. Esta seleção de talento é efetuada por profissionais qualificados e é feita a crianças e jovens dos 8 aos 18 anos que já são reconhecidos nas escolas e nos seus clubes, devido às suas capacidades superiores através do conjunto de ações que permitem ver um desempenho superior comparativamente aos seus colegas de treino e adversários. Assim, de modo geral o que pode diferenciar dois indivíduos da mesma idade são as suas estruturas neurofisiológicas e anatômicas, as suas capacidades motoras e psicológicas e o ambiente social em que cresceram e vivem. Um indivíduo, para ser considerado talentoso, possui estes atributos acima da média da sua idade e deve também apresentar elevados níveis de treino. Uma das nossas características comparáveis com outros seres humanos é a nossa diversidade bio-psico-motora, que provém de fatores genéticos e da nossa interação com o meio, o que nos leva a questionar: "será que já nascemos com talento? Ou ele é adquirido?". Vários estudos comprovam que o bom desempenho de um atleta está relacionado com o conjunto de genes herdados pelos seus progenitores, mas nascer com uma boa predisposição genética para a prática de uma dada modalidade não é o suficiente para se atingir um alto desempenho desportivo, é necessário que existam estímulos do exterior que façam com que estes genes se manifestem, daí o ambiente em que o atleta vive ter grande importância no desempenho desportivo. Assim, o nível desportivo do atleta não é influenciado tanto pelos genes como pelo ambiente em que vive. Por exemplo, se alguém é filho de dois jogadores da NBA, é de prever que este, por predisposição genética, também venha a ser um bom jogador de basquetebol, mas precisa de receber estímulos e treinar muito na mesma para chegar ao nível dos pais e ultrapassá-los. Neste caso, o atleta tem toda a genética e tem a possibilidade de tornar-se um grande jogador se o seu ambiente e a sua vontade o permitir. Contudo, não é necessário ter uma boa herança genética para virmos a ser excelentes atletas de uma modalidade. Existem milhares de atletas cujas características físicas e morfológicas não são as mais vantajosas para o desporto que praticam e mesmo assim conseguem atingir grandes níveis. Por exemplo, no basquetebol é vantajoso e quase necessário ter um físico alto, no entanto houve um jogador chamado Muggsy Bogues de 1.60m que teve uma carreira muito boa e até chegou ao "Hall of Fame", um grupo de lendas da NBA. Isto demonstra que os limites genéticos podem sim ser ultrapassados, mas, para isso, é preciso existir muito treino, trabalho, força de vontade e determinação por parte do atleta para chegar ao nível de quem por si só já nasce com uma "vantagem". Desta forma, vemos que os fatores genéticos têm um papel muito importante, mas os fatores ambientais e a prática é que vão ser essenciais para atingirmos um alto desempenho. Posto isto, podemo-nos questionar: "Será a especialização precoce essencial para que se atinja o sucesso?". A literatura diz que não. Segundo grande parte dos especialistas para que se atinja a excelência devem ser estimuladas diversas habilidades motoras durante a infância, por exemplo, através da prática de múltiplas atividades e modalidades, não devendo haver especialização numa só modalidade antes dos 13 anos.
• Aspetos positivos da especialização precoce: Muitas horas de treino, foco apenas numa modalidade desportiva.
• Alguns aspetos negativos da especialização precoce: aborrecimento na modalidade que pratica (burnout), lesões de sobre uso, pico de performance numa idade também relativamente jovem, o que significa que provavelmente terá o seu pico de performance entre os 15-16 anos e assim pode não ter a oportunidade e capacidade de entrar no desporto adulto e de elite.
A pratica informal desportiva é também muito importante no desenvolvimento da criança, isto é, praticar desporto com os amigos ou família, pois irá proporcionar ao atleta a aprendizagem através dos erros e a criação da sua própria identidade como jogador.
A influencia da interação ambiental na fisiologia cerebral:
Um grupo de cientistas fez um estudo que se baseava em expor um grupo de ratos a ambientes completamente diferentes, alguns um ambiente muito estimulante, e outros com um ambiente bastante monótono. Posteriormente ao analisarem os cérebros dos ratos repararam que eram bastante diferentes. Os ratos que tinham sido mais estimulados tinham um córtex cerebral maior e tinham também um maior número de enzimas que facilita as transmissões cerebrais.
O documentário sobre a história de Gennie:
A partir do documentário de Gennie, uma menina selvagem que foi encontrada isolada nos anos 70 a viver sozinha numa floresta, podemos refletir sobre a natureza humana e a importância do ambiente e das interações sociais no desenvolvimento infantil, podendo tirar diversas conclusões:
- Umas das primeiras conclusões é o elevado impacto que o ambiente tem no desenvolvimento de uma criança. No caso de Gennie, esta cresceu num ambiente isolado, sem interação, tendo um efeito nefasto no desenvolvimento cognitivo, emocional e social, mesmo anos após ser encontrada e integrada na sociedade por especialistas de grande estatuto. Isto destaca a importância de um ambiente saudável, estável e estimulante para o desenvolvimento cognitivo infantil.
- O aprendizado da linguagem é crucial para o desenvolvimento cognitivo: Gennie teve dificuldades para aprender a falar e se comunicar, o que atrasou o seu desenvolvimento cognitivo, realçando a importância da linguagem e da comunicação no desenvolvimento humano.
- Também é realçado a importância do trabalho em equipa e do envolvimento de especialistas em áreas como psicologia, terapia da fala e educação para ajudar a reintegrar pessoas que foram privadas de contato humano por longos períodos, sem afeto e compaixão. O trabalho em equipa é essencial para lidar com questões complexas e garantir que as pessoas recebam o cuidado e a atenção que precisam para ter um bom desenvolvimento. No caso de Gennie, esta estando privada de qualquer contacto social, não se desenvolveu no seu todo.
Ambiente ou genética, qual tem maior influência?
A influência da genética e do ambiente no desenvolvimento humano é complexa e não pode ser reduzida a uma resposta simples ou universal. Em geral, a genética pode ter um papel mais relevante em alguns aspetos, enquanto o ambiente pode ser mais importante em outros. No entanto, muitas características são influenciadas tanto pela genética como pelo ambiente. Por exemplo, a inteligência que abordaremos a seguir é influenciada pela combinação de fatores genéticos e ambientais. Portanto, é importante reconhecer que a maioria das características humanas é influenciada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais, e que a interação entre esses fatores pode ser complexa e variável. Ambos os fatores desempenham um papel importante no desenvolvimento humano, e a compreensão de como esses fatores interagem pode ajudar a promover um desenvolvimento saudável e equilibrado.